ISSO NO 2006, GRANDE NELSON DE SÁ
Sem showmícios, outdoors, cartazes e faixas de rua, camisetas e bonés, a campanha eleitoral de 2006 tem os muros e a televisão. E a internet.
Neste ano eleitoral, no Brasil como nos EUA, “o cálice sagrado” que os políticos buscam é como tornar a internet uma arma de persuasão, diz o blogueiro americano Jerome Armstrong, dito “The Blogfather”, do MyDD.com.
Ele foi a âncora da campanha de Howard Dean, há três anos, paradigma da incorporação da web pela democracia representativa, e cunhou a expressão “netroots”, para designar o ativismo político de “raiz” organizado via internet.
Nos EUA, o fenômeno acontece de baixo para cima, das “raízes” para o marketing de campanha. No Brasil, como se vê nos sites de candidatos e partidos, a “idéia fora de lugar” salta etapas, do marketing de campanha para a rede, de cima para baixo.
No ar, os sites de Lula, Geraldo Alckmin, Heloísa Helena, José Serra e Aloizio Mercadante incorporam mecanismos de interação e tecnologia de ponta, dos vídeos ao blog de candidato, mas pouco se encontra de ligação com o ativismo pré-existente na internet.
Ativismo que enredou e estabeleceu movimentos como aqueles vinculados ao Fórum Social Mundial, à esquerda, e ao “não” vitorioso no referendo sobre porte de armas, à direita.
Conexões
Carlos Bottesi, professor de Redes Convergentes na Unicamp, conta a história de um candidato a vereador com “uma proposta muito simples”, dois anos atrás em Campinas: “resgatar a dignidade dos animais de rua”.
A partir dela, o político criou uma “rede de conexões” pela internet, com e-mails e outros mecanismos –e, sem televisão, terminou como o mais votado.
A história exemplifica como, na internet, o que importa é a rede que se forma. “A Igreja Católica, os sindicatos, os partidos sempre foram ações em rede”, diz Bottesi, também professor de Novos Espaços Políticos do MBA em marketing político da ECA-USP.
“No momento, a internet é ferramenta indispensável para ampliar as ações em rede.”
Vale para igrejas e políticos como vale para qualquer cidadão. Blogs coletivos e mensagens de celular mobilizaram, no final de 2005, as manifestações –e os ataques violentos– dos jovens franceses.
Sites interativos de mídia independente organizaram os atos de Seattle e Gênova. Correntes de mensagem de texto, por e-mail e instrumentos tipo “messenger”, teriam criado a rede do “não” no referendo das armas.
Voto nulo e transparência
No momento, no Brasil, uma das redes políticas mais atuantes, fora das instituições, é a do voto nulo, que começou em blogs como Voto Nulo de Protesto e [10 anos a 1000], hoje praticamente inativos, e se espalhou viralmente pela blogosfera, chegando até aos mais estabelecidos.
Uma rede contrária ao voto nulo, registre-se, também já se formou, em blogs e comunidades de Orkut, estabelecendo um confronto on-line que alcança dezenas de endereços, de ambos os lados.
Outra rede que busca se firmar, externamente às instituições pré-existentes, é aquela em torno da organização Transparência Brasil (www.transparencia.org.br)
NELSON DE SÁ
Colunista da Folha de S.Paulo