Especialistas analisam se rede social comandada por Mark Zuckerberg pode crescer a ponto de ser mais popular que o site do Google.
De um lado, a rede social mais popular do Brasil, com nenhum adversário que ofereça real perigo à penetração de 75% na base de internautas brasileiros. Do outro, a maior rede social do planeta, contabilizando mais de 250 milhões de usuários, o que o credenciaria como quarto país mais popular do planeta.
O mercado brasileiro deverá ver nos próximos meses uma tensão crescente entre o Orkut, aparentemente imbatível em terras nacionais, e o Facebook, responsável por desbancar o então dominante MySpace e se tornar a rede social mais popular do mundo.
A prova está não apenas no concurso de desenvolvimento anunciado pelo fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, em visita ao Brasil, mas também nos números de acesso no País revelados pelo precoce empreendedor: 1,3 milhão de brasileiros já têm contas na rede social.
O IDG Now! ouviu pesquisadores e especialistas do mercado brasileiro de internet para esclarecer se o Facebook representará uma ameaça real à supremacia do Orkut no Brasil ou se engrossará a lista de competidores que tentaram, mas não fizeram cócegas ao site do Google.
“O Facebook é um ameaça, mas não tão real como foi para redes em outros países. Até 2008, conversávamos sobre redes sociais e não víamos nenhuma ameaça, seja pelo Orkut estar bem posicionado, seja pela faltar de serviços em português”, explica o analista de internet do Ibope Nielsen Online, José Calazans.
As duas barreiras não são problemas para o Facebook, que tem uma distribuição heterogênea em mercados internacionais (70% dos seus perfis estão fora dos Estados Unidos) e uma versão em português lançada em dezembro de 2008 após tradução apoiada pela comunidade.
A esmagadora vantagem do Orkut
Para pensar em ultrapassar o Orkut no Brasil, o Facebook terá que tirar uma ampla vantagem da rede social do Google, que, mesmo com sua alta penetração entre os brasileiros, continua a aumentar – em julho de 2009, 75% da base brasileira de internautas acessou a rede social, contra 70% de um ano antes, desempenho alimentado principalmente pela entrada de adultos (pais de adolescentes, na maioria). Isso significa que 27,3 milhões de brasileiros navegaram pela rede social no período.
A penetração crescente para um site que tem uma base tão grande é um dado importante, segundo Calazans. “Isso mostra que (o Orkut) ainda não bateu no teto. Enquanto isso, o Facebook começa a crescer. Lentamente, mas está crescendo”, explica Calazans. Ao contrário de outros rivais, como o Badoo e o Sonique, a curva de crescimento do Facebook é sustentável, contando com faixas etárias variadas.
Segundo o Ibope Nielsen Online, o uso do Facebook no Brasil é ainda maior que os dados divulgados pela rede social: em um ano, a audiência doméstica quadruplicou, saltando de 500 mil para 2,1 milhões de usuários. Se contarmos o acesso corporativo, o Facebook já tem 4,2 milhões de brasileiros inscritos.
Discurso semelhante ao de Calazans adota a pesquisadora da Universidade Católica de Pelotas, Raquel Recuero. Ela acredita que o Facebook, por ser “consistentemente mais inovador que o Orkut”, tem crescido de modo consistente e pode vir a ameaçar a rede do Google no futuro.
Recuero atrela uma eventual vitória do Facebook sobre o Orkut no Brasil a um cenário em que o primeiro mantenha sua estratégia de oferecer recursos inovadores e com grande apelo ao internautas brasileiro, como testes, jogos e presentes, e o segundo não se movimente para oferecer novidades ais usuários. A universalidade do Facebook e sua maior preocupação com a privacidade dos internautas podem pesar também contra o Orkut, aponta ela em seu blog.
Caso o cenário se mantenha, a grande barreira para adoção em massa do Facebook está na interface, considerada por ela “pouco atrativa e confusa, especialmente se comparada com a do Orkut”. Recuero tem estofo para falar sobre os motivos que levaram à adoção em massa do Orkut: a pesquisadora comandou uma equipe contratada pelo Google em 2005 para apontar que a interface simplificada e o timing no lançamento estão entre as razões do sucesso da rede social no Brasil.
O Google Brasil, porém, parece não querer parar e ver o rival crescer. Fontes do mercado ouvidas pelo IDG Now! afirmam que o escritório mineiro do buscador trabalha em uma reformulação visual do Orkut , trabalho que deve estar pronto em outubro. O projeto está sob a batuta do diretor de produtos da empresa para América Latina, Victor Ribeiro. Oficialmente, o Google Brasil não comenta a possível reformulação.
A natureza generalista, somada à sua universalidade, levaram o Facebook a bater tanto redes especializadas, como o MySpace, centralizado em música, como serviços regionais de sucesso, como o Bebo, no Reino Unido. Agora, a rede criada por Zuckerberg enfrenta um adversário “bem cimentado”, nas palavras de Calazans, com penetração entre usuários nacionais e tempo mensal gasto não visto em nenhum outro mercado do mundo.
Problemas com a Classe C?
Demograficamente, o perfil médio do brasileiro no Facebook conta com um usuário jovem com maior escolaridade (universitários ou em pós-graduação, segundo o Ibope). A adoção do Facebook Connect por portais nacionais – além do Terra, anunciado durante a visita de Zuckerberg, Globo.com e iG já integraram o sistema em seus conteúdos – pode levar a rede social para uma camada mais popular de internautas.
É aí que o Facebook encontra seu principal impedimento no Brasil, segundo o professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), Luli Radfahrer. “O Facebook não tem nenhum argumento sério que convença a classe C a mudar do Orkut para ele. O crescimento (do Facebook) não se deve à migração de base, mas ao uso das classes A e B. Esses usuários começaram a usar Orkut, viram a audiência crescer e depois perderam. Agora, demonstram interesse pelo Facebook”.
Para ele, as vantagens de usar o Facebook não superam as do Orkut, pelo menos do ponto de vista do usuário mais simples. “Não precisa ser classe C, pode ser das camadas A ou B com pouca alfabetização digital, pessoas mais velhas ou aqueles que entram no Orkut por causa de familiares ou amigos de escola”, explica. A migração continuará restrita a “nerds, geeks, antenados, fashionistas e usuários de iPhone”.
O alto índice de uso do Facebook entre esses públicos, no sentido contrário, é o que fará com que o Facebook bata o Orkut no Brasil, defende o presidente da agência Garage Interactive, Max Petrucci, que arrisca até um prazo: três anos. A adoção do Facebook no Brasil lembra muito a do comunicador MSN Messenger, compara ele, que aposta no poder de influência dos entusiastas e na maior seletividade da rede social como forma do Facebook atingir as massas.
A comparação de Petrucci ecoa a teoria de Recuero e Calazans sobre uma eventual migração do brasileiro do Orkut para o Facebook: contas serão criadas no segundo e ambas as redes poderão ser usadas simultaneamente. Caso haja uma migração em massa e ferramentas que justifiquem, a conta do Orkut pode perder lugar para a do Facebook, caracterizando uma migração gradual.